quarta-feira, 13 de julho de 2011

"O Inventor de Quimeras" (4ª parte)



O certo é que o ódio e a raiva são sentimentos que vão sendo cultivados por alguém aos poucos. Nascem no estômago e por isso, dizem alguns especialistas, são sentimentos que devem ser evitados, pois estes podem fazer o indivíduo sucumbir. Remoer a raiva seria prejudicial à saúde mental das pessoas que insistem em não perdoar seus detratores. Raiva e ódio reprimidos seriam os principais causadores de gastrite estomacal e de muitas doenças psicológicas. Para esses especialistas o melhor seria conter-se no momento e depois, a sós, extravasar contra o espelho, contra um travesseiro, ou até mesmo gritar contra o nada sozinho em um quarto.  Parar para pensar e refletir do porquê de toda ira, seria também um dos remédios contra tais sentimentos indesejados.

Só que falar é fácil. O fato é que mesmo fazendo todo o possível para não sentir ódio ou raiva de alguém ou algo, esses afetos podem insistir em permanecer. E no final existe a possibilidade de aparecerem com maior intensidade, podendo acontecer da pessoa raivosa explodir a qualquer momento.

Numa sexta feira véspera da data no qual completaria 22 anos, Sidney não parecia estar feliz. Não passava a sensação de bem estar de outrora.  Parecia carregar um peso enorme nas costas. Andava de um lado pro outro dentro de seu pequeno quarto, com os punhos cerrados dentro do bolso da calça. A tensão era enorme. Sabia que teria que fazer algo a respeito. Entretanto não pensou em nenhum momento em utilizar dessas técnicas anti-ódio. A raiva preencheu de tal maneira seus pensamentos que não sobrava espaço pra mais nada. Odiava principalmente sua mãe. Não queria mais saber daquela velha preta, bêbada e vadia do caralho. Iria embora daquele lugar naquele mesmo dia. Faria uma pequena mala e sumiria para nunca mais voltar. Nem que fosse para errar a esmo sem destino, vivendo nas ruas com criaturas maltrapilhas que encontrasse pelo caminho, sairia dali sem pensar duas vezes. Afinal, pensou ele, o que seria pior que morar naquele barraco com aquela macaca bêbada?  

Por isso começou a fazer a trouxa de roupas que levaria consigo. Escolheu duas camisetas, duas calças jeans surradas e as colocou dentro de um saco plástico de supermercado. Ajoelhou-se diante da cama e puxou debaixo dela uma caixa de sapatos. Lá dentre 7 livros, escolheu apenas dois para lhe fazer companhia em sua jornada. “Crime e castigo” de Dostoievski e um romance policial que adorava intitulado “Nem os mais ferozes” de Edward Bunker. Ainda ajoelhado, desdobrou a orelha do livro e releu a pequena biografia do escritor norte americano: Autor de diversos romances que retratam de modo fiel a vida criminosa... escritor, roteirista, ator...preso por diversas vezes... tendo atuado com Quentin Tarantino. Pode parecer besteira, mas aquelas poucas palavras sempre o inspiravam. Ficou impressionado quando soube da vida desse autor pela primeira vez. Achava incrível como alguém poderia ter ido do céu ao inferno daquela maneira. Escrever vários livros na prisão Folsom e ainda atuar em "Cães de Aluguel". Era demais para aquele negrinho. Já havia lido todos os livros de Bunker, e sempre que podia relia “Nem os mais ferozes”, seu predileto. 

Colocou os dois exemplares dentro da sacola, levantou e partiu rumo ao desconhecido, firme na convicção que sua vida dali para frente seria diferente. Ao abrir a porta do quarto viu sua mãe deitada bêbada no sofá velho da sala assistindo televisão. Olhou para o rosto da velha e pensou em estrangulá-la ali mesmo. Ou então cortar-lhe a jugular enquanto dormia, anestesiada pelo álcool. Depois poderia enterrar o corpo ali mesmo no chão da sala. Ninguém daria falta da bêbada rabugenta. Ficariam até agradecidos a ele caso descobrissem a verdade. Mas não poderia fazer aquilo tudo. Era medroso demais pra premeditar um crime. Decidiu não se despedir e partir antes que ela desse conta de sua ausência, já que ela estava com os olhos fechados.  Mas sua mãe não era tola. Ao sentir a presença dele, logo soube que o filho estava aprontando alguma.

Esse conto continua.........
(To be continued) 


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