quarta-feira, 25 de maio de 2011

Sobre o sentimento de culpa, e o papel de uma obra de arte.

“Briony era a última filha, e agora não havia nada, entre aquele momento e a morte, que algum dia viesse a ser tão visceralmente importante e delicioso quanto criar um filho. Emily não era boba. Sabia que era autocomiseração, essa contemplação melancólica do que parecia ser sua própria desgraça: sem dúvida Briony iria estudar no mesmo colégio que a irmã, e ela, Emily, ficaria com os membros cada vez mais duros e se tornaria cada vez mais irrelevante; a idade e o cansaço fariam com que Jack voltasse para ela, e nada seria dito, nada precisaria ser dito. E lá estava o fantasma de sua infância espalhado pela sala, para lembrá-la do arco limitado da existência. Como a história terminava depressa! Não era imensa, nem vazia e sim precipitada. Implacável.”

Ian McEwan já se transformou, a muito tempo, em um verdadeiro pop-star das letras. Romancista britânico competente e de grande habilidade com a língua inglesa, ele se tornou um dos autores mais badalados da literatura mundial, e é o autor de um dos melhores romances dos últimos 10 anos; o ótimo “Reparação” (2001). Carregando no currículo obras como: "O Jardim de Cimento" (1978),A criança no tempo” (1987), "Amor para Sempre" (1997) “Amsterdam” (1998) “Sábado” (2006),”Na praia” (2007), e seu mais recente trabalho ”Solar” (2010), em Reparação, McEwan faz um denso e refinado mergulho sobre o peso da culpa e do remorso gerados a partir de erros cometidos no passado.

 O livro reflete de maneira soberba, como a personagem principal Briony , tenta pelo resto de sua vida e de todas as formas possíveis, se reparar de um erro cometido na infância, que afeta inexoravelmente a vida de todos os envolvidos. A literatura fica com a responsabilidade de expiar os seus ‘pecados’ ― daí o título, em inglês, Atonement, que significa expiação. Nessa busca incansável da personagem pela redenção, o autor também questiona a função moral e ética da literatura.

Refletindo sobre relacionamentos, medos, e sobre a consciência, o livro de McEwan traz uma leitura incrivelmente prazerosa, com descrições extremamente realistas, levando o leitor direto para dentro da trama. Os menores detalhes carregam uma enorme carga sentimental, fazendo o leitor reagir e se emocionar com a leitura e com o decorrer da narrativa.  

Adaptado para os cinemas em 2007 pelas mãos do diretor Joe Wright, com o título no Brasil de “Desejo e Reparação”, o filme é extremamente fiel ao romance, e conta com figurinos, fotografia e trilha sonora realmente impecáveis, em ótimas locações do sul da Inglaterra. Com Keira Knightley como Cecilia, James McAvoy como Robbie e Vanessa Redgrave como Briony, o filme ganhou um Oscar de melhor trilha sonora, dois Globo de Ouro, e recebeu 14 indicações ao prêmio Bafta.



          Para os amantes de boa literatura a película se tornou em uma porta de entrada e um incentivo para o mundo do escritor britânico bem como seus outros livros. Para aqueles que não tiveram o prazer de conhecer ainda trabalho do escritor, fica a dica do ilusãoCrível, e a certeza de estar diante de umas das maiores obras de arte dos últimos tempos. 

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