quinta-feira, 11 de março de 2010

Persona



É melhor você confirmar se a lindinha/19 que você conheceu na sala de bate-papo não é o Paulão ou o Rodrigão.
Mais um quadrinho da 'New Yorker'que eu achei nas minhas visitas ao site da revista.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Felicidade em pó


Só quero um gosto, uma glória,
Uma palma, um vencimento,
Um triunfo, uma vitória,
Tornar ao contentamento
Que me é pesar na memória.
Fortuna, leva-me lá,
E temperado estará
Todo o rigor do teu fogo,
Sobretudo sendo logo,
Sem eu ter que esp’rar será.

“O engenhoso fidalgo Dom Quixote de la Mancha”.
Miguel De Cervantes Saavedra.


Enfiei a mão no bolso e tirei os papelotes de cocaína que havia acabado de comprar de um garoto de onze anos. Apesar do preço alto, havia pouca quantidade da droga em cada saquinho. Cada um custava dez reais, e como eu comprei cinco, gastei cinqüenta reais de ‘farinha’ daquela vez. Antes de comprar, presumi que cinco eram suficientes para aquela noite, pois havia pouco tempo para se usar mais do que essa quantidade. Tinha que trabalhar no outro dia, e a ressaca dessa droga é foda.
Como já havia passado das onze da noite, coloquei de novo a droga no bolso e fui direto pra casa. No caminho para o ponto de ônibus, não agüentei e parei num boteco para comprar uma Skol em lata a fim de diminuir a ansiedade de chegar logo em casa e usar. O ônibus demorou uma década. Fiquei pensando se alguém imaginava que eu carregava cinco papéis de ‘farinha’ no bolso. Todas as pessoas no ponto pareciam me lançar um olhar de reprovação, todas elas pareciam saber que estavam diante de um drogado. Comecei a suar frio. E se eles chamassem a polícia. E se uma viatura passasse e alguém falasse em código para os policiais que o garoto magro de cabeça grande e de óculos fundo de garrafa, tinha em seu poder cinco papelotes de cocaína.
O problema dessa droga é que você vai ficando cada vez mais paranóico com o tempo de uso. Mesmo estando mais ou menos sóbrio naquele momento eu me assustava com a minha própria sombra. A maior parte de meus atos eram insensatos, comandados por delírios que minha mente produzia. Quando se está sob o efeito da droga, que não era o caso naquele momento, isso piora.
Semana passada, li numa revista de ciências sobre os efeitos da ‘farinha’ no cérebro. Em um primeiro momento você sente muito prazer. É uma sensação de poder incrível. Você é o senhor de si. Se sente completo. Logo depois do efeito ter passado, toda essa sensação é substituída por uma depressão e uma profunda aversão por si mesmo. É que a droga desregula toda a produção e troca de neurotransmissores de prazer, realizadas entre os neurônios. Nas sinapses, que são as conexões entre dois neurônios na qual é feita a propagação dos impulsos elétricos, ela possibilita a oferta de um excesso de neurotransmissores cuja correlação psicológica é uma sensação de prazer, magnificência, excitação sexual e euforia. O uso prolongado da cocaína pode fazer com que o cérebro se adapte a ela, de forma que ele começa a depender desta substância para funcionar normalmente. Quando você para de usá-la, já não existe neurotransmissores suficiente nas sinapses, aí então você experimenta a depressão, alterando drasticamente seu humor. Além do que, com alguns meses de uso, já ocorrem hemorragias cerebrais com morte de neurônios e perda progressiva das funções intelectuais superiores. São comuns também síndromes psiquiátricas como esquizofrenia e crises de ansiedade e pânico.
Todas essas informações são muito interessantes, porém inúteis para um drogado como eu. As conseqüências não são consideradas. O meu foco é somente o prazer. È a mesma coisa que colocar uma peça de picanha no meio do jardim e pedir educadamente ao seu pastor alemão para que ele apenas olhe para a carne, e não a coma, tomando o cuidado de explicar que aquele não é o alimento adequado para sua dieta e que seria melhor que ele comesse a ração que você colocou no recipiente apropriado. Simplesmente não acontece assim.
Quando o ônibus chegou tentei entrar rapidamente, mas uma mulher gorda impediu minha passagem. Inexplicavelmente fiquei puto. Acabei sendo o último, de todos que estavam esperando o ônibus a subir as escadas do veículo e a pagar o valor da passagem ao cobrador. Agradeci e fui me sentar lá no fundo, longe dos olhares curiosos dos outros passageiros. Ou dos olhares que imaginei estar recebendo das outras pessoas. Sentado, sozinho com meus pensamentos, achei que estava ficando louco.
Pensei que devia ter comprado mais uma cerveja ou ter bebido uma dose de pinga naquele bar. Estava muito ansioso e o álcool me ajuda a relaxar. Em casa tinha bastante cerveja e uma garrafa de Orloff que eu comprei num boteco perto de casa. Mas eu precisava de um trago naquele exato momento. Tinha que afastar a ansiedade e a paranóia da minha cabeça de alguma maneira.
Coloquei a mão no bolso a fim de sentir os papelotes. Eles estavam lá. Minha querida e inseparável companheira a cocaína. Está sempre comigo. Nos momentos de tristeza e também nos de felicidade.
Estava lá quando o meu filho ia nascer, e eu sob o efeito dessa substância, levei de carro minha ex-mulher ao Hospital para a cesariana. Ao saber da bem-sucedida operação, quase quebrei o nariz ao bater com o rosto no chão do corredor que dava acesso à maternidade. Tropecei num fio de alguma máquina do hospital ou de algum aparelho eletrônico que até hoje não sei qual foi e caí como se fosse uma sequóia que acaba de ser cerrada por lenhadores. A enfermeira que também estava passando no momento da cena da queda, me ajudou a levantar e me levou para enfermaria a fim de fazer um curativo. Meu nariz sangrava muito. Fiquei lá durante um tempo com o cabeção levantado pro teto até que o sangramento estancasse. Em vez de estar preocupado com a situação de saúde de meu filho e de minha esposa, só conseguia pensar em uma coisa: beber uma dose de cachaça e dar um tirinho. Na verdade o álcool também sempre me acompanhou. Foi ele que me apresentou para a cocaína por assim dizer. Formamos um triângulo amoroso, um ménage à trois que se depender da minha vontade existirá indefinidamente.
Levantei-me umas cinco paradas antes da minha. Não via a hora de chegar em casa. O ponto que eu desço fica de fronte a minha casa. Quando o ônibus parou, agradeci ao motorista cumprimentando-o com uma das mãos. Ele viu pelo reflexo do espelho e respondeu com um aceno. Desci as escadas de um pulo só. Enfiei as mãos no bolso de da calça e procurei o molho de chaves. Abri o cadeado do portão e entrei rapidamente no quintal de casa que a essa hora estava assustadoramente escuro. Andei até a porta sem conseguir ver um palmo a minha frente. Estiquei a mão direita a fim de me guiar até a porta. Quando senti meus dedos tocarem a porta tomei o cuidado de não esbarrar em nada, para evitar qualquer barulho que pudesse me causar o constrangimento de acordar alguém dentro de casa. Eu morava com meu irmão e minha irmã e sabia que eles estavam dormindo naquele horário. Abri a porta delicadamente e entrei nas pontas dos pés. Tranquei a porta e fui andando até o meu quarto que ficava a uns dez passos da porta da sala. Quando entrei, fechei logo a porta e passei o trinco. Liguei o aparelho de som em Comfortably Numb do Pink Floyd, em um volume baixo, mas suficiente o bastante para ouvir claramente a voz de Roger Waters. Peguei um livro da prateleira e coloquei-o sobre o criado mudo. O livro em questão era coincidentemente Trainspotting, de Irvine Welsh. Digo coincidentemente porque esse livro descreve exatamente o cotidiano de alguns jovens da periferia de Edimburgo que passam a maior parte do tempo se embebedando, e principalmente se drogando. Welsh narra, com uma ironia cáustica a banalidade da existência daqueles personagens. A diferença óbvia é que a droga usada por eles era a heroína e a que eu iria usar era a cocaína. Dá no mesmo se você analisar bem. Às vezes eu mesmo refletia sobre a banalidade da existência humana. Por fim peguei um dos papelotes do meu bolso e despejei todo o seu conteúdo na capa do livro. Fiz três carreiras grossas de farinha com a ajuda de um cartão telefônico. Enrolei uma nota de cinco reais e me sentei em minha cama. Debrucei-me sobre o livro e de uma vez só aspirei toda uma carreira da droga. Senti a ardência em minha cavidade nasal, e o gosto amargo da cocaína misturada com a saliva. Era da boa. Num instante meu nariz adormeceu e como um bebê que se encontra no ventre de sua mãe, antes mesmo de nascer, me senti completo. Mesmo que aquela sensação do efeito da droga agindo no meu cérebro durasse apenas aquele segundo, já estaria satisfeito. Naquele exato momento, naquele pequeno e curto instante de minha vida me encontrava como nunca antes, incrivelmente feliz.

sábado, 6 de março de 2010

A velha natureza humana



Encontrei esse cartoon no Site da revista 'New Yorker'. Achei ele muito engraçado e inteligente, pois mostra como todo mundo é o dono da razão quando está dirigindo. Reflexão em apenas um desenho.
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