quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
Ó homem, desconhece-te a ti mesmo.
Livros e livros de autoajuda abarrotam as prateleiras de grandes e pequenas livrarias. Milhares de títulos que tem como objetivo um auto-conhecimento, específicos ou não, são a maior fonte de renda do mercado editorial. Está na moda seguir o conselho da inscrição do Oráculo de Delfos: “Ó homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo.” Como o mesmo oráculo proclamou Sócrates o homem mais sábio da Grécia este ajudou a espalhar pelo mundo a idéia do conhece-te a ti mesmo. A ‘busca do eu interior’ se tornou a tendência de consumo hoje na forma da já citada literatura para uma ‘melhoria do espírito’, palestras motivacionais, terapias, meditação zen e um sem número de outras ferramentas que buscam o ‘desenvolvimento do ser’. “Só o conhecimento salva”, dizem os propagadores da disciplina da auto-melhoria contínua da alma. Tolos! Pois desconhecem o bálsamo da estupidez. Como é bom o ópio sedativo da ignorância. Não sabem o que estão perdendo. Satisfação plena sem a necessidade de lições passo a passo para se chegar à plenitude. Como é boa a sensação de gado que o desconhecimento proporciona. Não querer saber quem é, esse é o verdadeiro caminho para a felicidade. O conhecimento das ‘origens dos traumas’, a ‘gênese das disfunções psíquicas’, dos nossos ‘medos’, são impedimentos de obtermos uma verdadeira desinformação de nós mesmos. Não ‘saber para onde está indo’, não se preocupar com o ‘crescimento da personalidade’, do ‘caráter’, é a melhor maneira de se chegar a um estado de insingularidade como ser humano. Por uma personalidade de massa eu luto. Diga não você também a uma cultura do conhecimento. Entretanto, como diria Gilles Deleuze, diga sim a uma “cultura do esquecimento: nenhuma cultura da rememoração, nenhuma cultura do passado, mas um apelo ao esquecimento como condição de experimentação”. Alienação de si mesmo como meta para a vida enfim.
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Salve, Leandro. Retribuindo a visita. É pano pra manga, o assunto é longo. Mas eu diria que a cultura do esquecimento do Deleuze diz respeito à uma crítica que ele faz ao problema da reflexão na filosofia. Ele propõe algo que seria uma criação, ao invés da reflexão. Algo mais amplo. A leitura do próprio Deleuze, entretanto, faz com que duvidemos de que isso seja ignorar os conceitos. O que ele propõe é colocar os conceitos em movimento. Para tal, é preciso que se tenha um mínimo razoável de conhecimento a respeito deles.
ResponderExcluirDiscussão longa.
Abraço e parabéns pelo blog
Obrigado e valeu pela visita Marcelo. Você tem razão sobre o tamanho da discussão, apenas achei legal citar Deleuze. O trecho acima, foi tirado de "Cinco proposições para psicanálise". Deleuze contesta a máquina psicanalítica como um todo. Para um leigo como eu é interessante a idéia dele de uma anti-psicanálise. Um devir psicanalítco, colocando os conceitos em movimento, como você muito bem apontou.
ResponderExcluirAbraço e Volte sempre !!!!
Salve Leandro
ResponderExcluirDeleuze é realmente um grande contestador da psicanálise. Especialmente no sentido de que ele considera que existe uma realidade psíquica "esquizofrênica" que é escondida pela neurose, e que é a sustentação da neurose a grande meta da psicanálise. Considero que ele tem razão em relação a esse caráter esquizofrênico, que na verdade é mais próximo da galera contemporânea da psicanálise. E concordo também com ele em relação a essa questão do superinvestimento que a psicanálise faz em favor da neurose. Entretanto, encerrar a psicanálise nesses dois pontos seria reducionismo. Que, aliás, não acho que ele cometa.
Dois autores interessantes para encadear com o Freud são o Lacan e um brasileiro que tem criado bastante (num sentido deleuziano mesmo) em cima dos conceitos psicanalíticos, e que se chama MD Magno.
Abração!
Obrigado Marcelo, mais uma vez pelas dicas e pelos esclarecimentos. As contestações que Deleuze faz a psicanálise expandem nossa visão, e deixa-nos livre de possíveis pensamentos dogmáticos, em que conceitos subjetivos são interpretados para serem legitimados pelo ponto de vista utilitário e moralista. O cara realmente é foda!
ResponderExcluirAbraço!
Salve, Leandro. demorei, mas voltei. Apesar de concordar que o movimento é fundamental, acho que a expressão que você usa, "conceito subjetivo", merece uma releitura. O conceieto está, obrigatoriamente, numa lógica que é mais-que-subjetiva, porque sempre deve fazer referência formal (no sentido de forma, estética) ao discurso que lhe abriga. Não existe conceito apenas subjetivo. O próprio Deleuze coloca isso, quando sustenta a filosofia como discurso.
ResponderExcluirPano pra manga.
Abraços
Valeu pela observação Marcelo!! Um grande abraço e volte sempre que quiser!!!
ResponderExcluirUm grande abraço!!!